Pálido e gelado...quase morto, um pedaço inanimado de carne, sem cor e sem função. Lá estava ele saindo daquele prédio que a população chama de açougue. Saiu de lá às 01:00 h daquela manhã de quarta-feira de setembro, igual a todas as outras. Enquanto isso havia uma movimentação em direção a outra edificação "açougueira", porém no outro lado da cidade e devo dizer que esta era mais organizada. Cheguei lá bem antes do pedaço de carne; mais precisamente cheguei às 00:00 h no limiar entre a terça e a quarta, troquei as minhas vestes e me dirigi a um salão denominado Conforto - era sim um local confortável, deveras. Fiquei ali sentado por longas 2 ou 3 horas, esperando o que aconteceria ali...logo uma colega se juntou a mim naquela ânsia e percebi que não estava sozinho. Às 4 h estávamos todos na sala onde tudo ocorreria. Éramos 10 ao todo. Cheguei a rir comigo mesmo ao pensar que um de nós chamava-se Cansado, e delirei por um momento como se fôssemos a branca de neve e os sete anões; era impossível pois haviam duas mulheres e éramos 10. Claro que sei que não havia um Cansado entre os sete anões, porém o devaneio veio bem a calhar naquela hora da madrugada. Começamos a desenvolver o que fomos proceder ali. Lâminas, fios, líquidos, aparelhagem, tudo no seu devido lugar. Duas luvas em cada mão. Roupa impermeável. Óculos. Máscara.Tudo ali havia de ser meticuloso devido ao risco para os 10 quanto para aquele ser que jazia enfermo no centro da sala. Cortava-se, drenava-se, aspirava-se, solicitava-se, e tudo acontecia ao mesmo tempo por ali; e de repente chegamos lá onde queríamos. Consegui enxergar e notar que os livros conseguiam ser bastante fidedignos nos desenhos esquemáticos - o pedaço de carne que eu observava era meio roxo, meio escurecido, meio disforme, meio pequeno, a palavra certa seria fibroso. Rígido como não deveria ser. Aparentemente mais morto do que aquele que jazia à mesa ao lado, em uma cumbuca de metal cheia de um líquido gelado. Ah, esqueci de falar disso. Voltamos então ao primeiro pedaço de carne que chegara ali às 1h da matina. Chegou com tanta pompa que todos pararam para observar apenas o invólucro que lhe guardava; era ele sim muito importante. A esperança de uma vida, ao menos alguns anos a mais. Estatisticamente cerca de 5 anos, quando pensamos em 80% dos casos. Em seu momento o décimo integrante da equipe, o qual ainda não tinha citado, surgiu e levou a embalagem com o pedaço de carne, pálido e gelado. Levou consigo minha fiel companheira que me guiou durante os primeiros minutos de procedimento. Fariam eles um tal de Back Table. Sabe-se lá o que era aquilo. Sei que 1 h depois surgiu o conteúdo do invólucro nesta cumbuca de metal acima citada. Envolvido em um plástico e embebido em um líquido de nome de Granfino. Pronto, estávamos à espera na marca do pênalti. O batedor fora convocado. Ele chegou algum tempo depois. O 11º jogado. Com primor chegou retirou o que ali era velho e trouxe o novo. Retirou o novo do seu recipiente e rapidamente introduziu na cavidade. Era um tal de líquido gelado o tempo inteiro - cansei de tanto me virar. As costas sonhavam com um momento de trégua. ele demorou a chegar, contudo. Mas valeu a pena. Ligou os tubos que havia de ligar e foi embora o magnífico jogador. Fez a sua parte e foi embora. Ali naquele momento percebi a mágica da vida. Aquele pedaço pálido e gelado inundou-se de um vermelho intenso em questão de minutos. Sucesso fora a Reperfusão. O que se seguiu não importa. A vida inundou aquele ser de maneira que jamais havia visto. Renasceu um morto vivo. Que lindo.
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quinta-feira, 16 de setembro de 2010
sábado, 4 de setembro de 2010
Desamparo
Pesa a mão da consciência nas horas vazias
Horas que não apagam jamais o mal-feito feito
Um telefonema muda o dia...rasga, torce e mete medo
Receio de pensar num futuro ainda mais incerto, e tão perto
Troca-se então os novos pelos velhos, que agora parecem ser interessantes novamente
Ao menos para quem não tem nada nas mãos. Só a sujeira
Em meio a isso tudo, percebe-se a falha naquela irmandade
Já não tinha mais idade para tudo aquilo
Nem ao menos sei se realmente pertenci por um único segundo a esse mundo
Me perco agora num enorme vazio, sem topo e sem fundo
A culpa martiriza ainda mais os meus dias...as risadas vão ficando cada vez mais sem graça
O medo de pensar que daqui para frente dificilmente vai ser diferente.
Perdi.
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
Pão de cada dia!
Salve salve ao pão de cada dia
Essas emoções que já não nos cabem mais
Interrompe-se um ciclo para iniciar outro
Sempre, sempre acreditando num futuro tão pleno, sereno
Espelhando-se naquele que nem sempre é tão correto...incerto
Na certeza de uma amor por aquela menina....franzina, e sempre de branco
Aqueles olhos de mar...quase sempre a marejar quando se fala dela...magrela
Pelo sim pelo não, guarde contigo a sua imperfeição e pense sempre nas cifras tão ricas
Tão mínguas? Tão pequenas quando são plenas a sua e a minha intenção
Não pense num futuro de abandono...segue a sua história meio sem dono
Sem dono, o dono da extradição. Obrigado Pão.
Obrigado Pão.
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
"Todos os meus amigos"
Fiz de todas as forças do universo uma redoma somente minha
Fui líder, fui senhor de todas as palavras
Por doces e infinitos segundos
Quantos eram os meus subordinados?
Eu tive que crer que ao menos ao ser, teria que entender até que ponto iria
Somos todos responsáveis por quem cativamos
Que culpa teremos se apenas somos objetos de caminho maior?
Será?
Guiado por passos entorpecidos fui então banido do mundo da perfeição
Cambaleando e sem "saco", meu mundo disfigurado, sem norte e sem chão
Me vi apenas um menino, refém de um único castigo....
O de viver sem nenhuma razão
Filho da minha maravilhosa estrela...me sentir como uma paixão tão vermelha
Dona da situação
Pois é.
Amigos, filhos da sorte...os mesmos, porém filhos da morte....
Filhos de minha imperfeição.
Fui líder, fui senhor de todas as palavras
Por doces e infinitos segundos
Quantos eram os meus subordinados?
Eu tive que crer que ao menos ao ser, teria que entender até que ponto iria
Somos todos responsáveis por quem cativamos
Que culpa teremos se apenas somos objetos de caminho maior?
Será?
Guiado por passos entorpecidos fui então banido do mundo da perfeição
Cambaleando e sem "saco", meu mundo disfigurado, sem norte e sem chão
Me vi apenas um menino, refém de um único castigo....
O de viver sem nenhuma razão
Filho da minha maravilhosa estrela...me sentir como uma paixão tão vermelha
Dona da situação
Pois é.
Amigos, filhos da sorte...os mesmos, porém filhos da morte....
Filhos de minha imperfeição.
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