Minha lista de blogs

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Raio de Luz

Naquela quarta-feira de tarde chuvosa, ainda no iniciar da tarde, nada preenchia o tão branco corredor. Cheguei sozinho, avaliei o ambiente e nada percebi; adentrei à direita, em meados do 6º ou 7º metro da via azulejada e entrei em uma porta à esquerda. Pronto, havia chegado ao meu destino. Lá 3 indivíduos dividiam uma salinha bem pequena, ornamentada de maneira a agradar olhos pueris. Meu telefone, naquela tarde, não parou de tocar por um único segundo e por esse motivo por diversas vezes precisei retornar ao corredor. Em uma das minhas investidas em busca de um local reservado para falar ao telefone me deparei com Ela. Pequena, definitivamente pequenina era ela. À observei como um gigante observaria um vilarejo, se gigantes existissem é claro, tamanha era a diferença de nossas estaturas. De primeira ela não fixou o olhar em mim, não sei se por vergonha ou por realmente não achar a minha figura interessante; isso durou alguns segundos. Decepcionado sem resposta afetiva voltei ao meu lugar na salinha à esquerda.Em um outro momento, já sem a desculpa telefônica, fui para fora em busca daqueles olhos sorrateiros. Impressionou-me o fato dela já estar me observando quando abri a porta da salinha. Ela sorria. Percebi naquele momento que tudo não tinha passado de pura vergonha; olhei-a então com mais atenção e percebi que deveria ser uma criança, de mais ou menos 3 ou 4 anos de idade. O que destoava naquela cena era o colar que a pequena usava. Não, definitivamente não era qualquer colar; ao menos não era coisa de criança. Tinha um ar adulto naquilo tudo, não relacionado a maturidade mas sim ao grau de agressão que aquilo representava, ao menos para mim. Ali, o que agredia o meu olhar era a presença de uma traqueostomia que era suavizada por um cordão que envolvia o pescoço. Estive tenso por alguns minutos; uma sensação de tristeza me invadia naquele momento. Um arrepio percorreu a minha espinha - pensei no filho de meu amigo, pensei em todos os bebês que eu conheço, pensei nos meus futuros filhos, se houver algum é claro, enfim, pensei muito. E ela? Sorria. Que peso tinha aquilo para ela? Aos meus olhos, a tão pequena menina era "adultificada", enquanto ela, quem carregava o tão pesado fardo que eu enxergava nada sentia de diferente. Andava como qualquer criança. Falava como qualquer criança. Encantava como qualquer criança. Sem dúvida, para ela, estava ali usando um colar, um divertido e belo colar. Com um gesto de mãos e um sorriso, tentando esboçar uma palavra que na certa ela não conhecia, entendi que ela me chamava, que queria que eu me abaixasse até que ficássemos equiparados em altura. Correspondi o sorriso e fui até ela, me agaixando para alcançar o que eu imaginava ser o objetivo dela. Obtive sucesso. Ela sorriu e veio de braços abertos como se viesse me abraçar. Me enganei, mas não me entristeci por isso, pelo contrário, sorri de felicidade. A pequenina focou os olhos no meu pescoço - em volta dele pendia um instrumento, científico, sério. Ela via um brinquedo ou um colar assim como o dela. Sorri ainda mais e aquilo iluminou o meu dia. Atendi o dia inteiro como nunca havia feito antes. Tudo isso durou apenas 2 minutos. O nome dela? Não sei, mas gosto de pensar que é "Raio de Luz".

2 comentários: